terça-feira, 16 de setembro de 2014

O HOMEM CARRO

                             O HOMEM CARRO
                                               (Fátima Azevêdo)

            Ele transita pelas avenidas, claudicando no contra fluxo. O suor de sua pele, reflete-se assim como o sol,  no para brisa dos carros. Ele caminha entre nacionais e importados, como se houvesse uma pista feita única e exclusivamente para ele. Não sei o seu nome, não sei onde mora. Mas sei que ao caminhar desesperadamente como faz, de peito nu, bermudas sujas e rasgadas e pés descalços, está a nos dizer algo que carecemos de entender. Somos muito pequenos para tal. Eu reparo nele. Os carros parecem respeitá-lo. O Homem Carro, como assim o chamo, anda quilômetros diariamente. Já o encontrei na BR 116, andando rapidamente na mesma velocidade e com o mesmo olhar perdido com o qual o encontro na Avenida Washington Soares, a rodovia CE 040. Ele cruza a cidade de Fortaleza, como que em penitência, em busca de salvação, em busca de libertação. Pode ser visto bem cedo do dia, em pleno sol à pino ou ao entardecer. Seus pés descalços, já calejados e queimados, não mais sentem o asfalto quente. Mas seu coração,  que se vê à distância,  assim como um semáforo vermelho  piscando, certamente sofre em carne viva, com as queimaduras da vida. O Homem Carro é uma parte de nós.

(Fortaleza 16.09.14)

terça-feira, 29 de julho de 2014

AINDA BEM...

                                                             
                     Bem-te-vis do meu quintal (Foto:Fátima Azevêdo)

Ainda bem que nós mudamos dia após dia. Ainda bem que uma boa parte das pessoas quando chega à maturidade se desvencilha da roupagem do radicalismo e encontra formas mais leves, adaptáveis e compassivas de viver. Ainda bem que amadurecem. Ainda bem que muitas pessoas entendem que nem todo maltrapilho é ladrão e que nem todo boa pinta é honesto. Ainda bem que há os que entendem que se alguém não gosta da cor amarela isso não quer dizer que seja uma pessoa triste. Ou se não tome um cafezinho à todo instante, não valorize o sabor do nosso café e o saboreie em momento especial. Ou que, se alguém não abrace o tempo todo e não beije seu cãozinho de estimação no focinho, isso signifique que não goste de animais. Seria muito triste se por não andar com meus animais de estimação o tempo todo no colo, ou por não os colocar para dormirem na cama comigo, isso fizesse de mim uma pessoa não confiável. Seria muito triste se apenas porque não ande aos beijos e abraços explícitos com meu marido, alguém chegasse à triste e infeliz conclusão que não o ame. As coisas não são bem assim. O Facebook está cheio de ridículas frases feitas, que muitos publicam como se estivessem publicando algo que mudaria o mundo ou os tornaria melhores que os outros. Acho isso tudo ridículo. Aos adolescentes, é dado o direito a esse tipo de comportamento, mas a indivíduos adultos, é lamentável. Indivíduos adultos que se dizem do bem, e que já dobraram o Cabo da Boa Esperança, não deveriam agir de modo tão infantil e inconsequente.

sábado, 26 de abril de 2014

LEMBRANÇAS. SÃO TANTAS...




Ainda estou meio paralisada emocionalmente falando. Não sei explicar com palavras. Papai partiu, viajou, (seja lá o nome que se dá ao verbo morrer e que não gostamos de pronunciar) desapareceu do meu raio de visão em janeiro deste ano. Minha primeira páscoa e meu primeiro aniversário sem papai.


Desde então, esvaziando a casa onde cresci, abrindo e fechando gavetas, me desfazendo de móveis, armários, roupas, livros, coisas pessoais de meu pai, cada vez que pego numa coisa é uma dor imensa. Não é a questão do apego material, é a questão da lembrança que a coisa me trás. 

Já encontrei cartas antigas, fotos oferecidas à minha mãe no começo do namoro, poemas engraçados e outros mais sérios. Contratos de trabalho, documentos do Ministério da Saúde agradecendo a papai pela sua participação na Reforma Administrativa, retratos nossos quando éramos crianças, bilhetinhos de nós para papai e mamãe, enfim, preciosidades caras para mim.

Tenho ainda duas malas e várias pastas para revisar e ver o que irei guardar e o que irei desprezar, doar, jogar fora. Me dói cada vez que começo a remexer em algo. As pastas 007, a cara de papai quando saía para trabalhar. Tudo ordenado minunciosamente. Muito diferente da filha mais velha.

Não sei...Uma amiga me telefonou e falando sobre as perdas, me sugeriu que eu guardasse todo esse material por um tempo e aos poucos fosse olhando. Talvez seja uma saída, até me sentir fortalecida o bastante para revirar minhas entranhas sem muita dor. (Fátima Azevêdo 26.04.2014)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

OBSERVANDO - UM CAMINHO PARA A HUMANIZAÇÃO

Quanto mais eu vivo mais aprendo observando o ser humano. Observar a raça humana, como ela se comporta, como ela reage, como pode ser doce e agressiva ao mesmo tempo, como pode ser responsável e inconsequente, como pode ser vaidosa e desumana, é um aprendizado sem fim. Como uns interagem com os outros, como alguém modifica seu olhar ou seu tom de voz dependendo de quem seja seu interlocutor, ou qual seja o seu interesse, é surpreendente. Trabalhando na área de educação e saúde há décadas, tive o privilégio de ao longo dos anos, me deparar com situações as mais singulares envolvendo pessoas das mais variadas posições hierárquicas. Não sou uma expert em comportamento humano. Muito menos uma estudiosa nessa área. Apenas uma observadora atenta, por mais distraída que pareça para muitos. Observar me deu a chance de conhecer um pouco melhor as pessoas, um pouco mais a mim mesma. Observar não nos confere poder algum, apenas nos dá a chance de meditar sobre nossas próprias atitudes frente a situações semelhantes às observadas por nós. Observar e meditar sobre o objeto de nossa atenção, talvez nos torne mais compassivos e menos desumanos.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

NOSSOS ERROS - DESPERDÍCIO

                                    

            Dizem os sábios, os que já viveram muito, que a vida nos ensina a viver e que é errando que se aprende. Até concordo, mas só em parte. Se fôssemos menos orgulhosos e mais humildes, aprenderíamos com os erros dos outros e perderíamos menos tempo. Não seria interessante, ao invés de irmos quebrando a cara para aprendermos as lições e só então acertarmos da vez seguinte, que bem reparássemos no nosso entorno, no que de certo e errado fazem os nossos amigos, familiares, conhecidos, as pessoas de modo geral?...Economizaríamos com certeza, muito do nosso precioso tempo fazendo as correções. Mas não tem jeito. Cada um quer aprender a seu modo. E quanto mais jovem é o ser humano e mais capacidade tem de aprender, mais neurônios prontos para a sinapse, mais quer aprender com os próprios erros. Alguns chegam até a falar o antigo e popular refrão: se conselho fosse bom ninguém dava, vendia. Então, só resta aos mais velhos, assistir da sacada ao desenrolar dos fatos e das vidas de cada um.
            Eu, de minha parte, ouvi alguns conselhos, outros não. Em alguns casos,  minha intuição me levou ao rumo certo. Em outros, fui cabeça dura e me quebrei toda  e em outras ocasiões, boa observadora que sou, fui prudente e me poupei de muitas derrapadas. E por me poupar deixei de viver?! Não, absolutamente! Aprendi muito e ainda aprendo, reparando à minha volta, percebendo os erros de terceiros e procurando não incorrer  nos  mesmos. Saí ilesa de situações que se não tivesse tido bom senso teria sido exterminada. O tal do chamado bom senso é uma proteção a mais que cada um deve ter além do seu anjo-da-guarda. O bom senso nos protege, segura a nossa língua, abre os nossos ouvidos, e apazigua o nosso coração. É ele, o bom senso, que nos faz olhar ao nosso redor e aprender com os erros dos outros, nos poupando assim, de cometer enganos perfeitamente evitáveis.
(Fátima Azevêdo)



domingo, 25 de agosto de 2013

VITÓRIAS




                                                     
                                Guache sobre papel-Fátima Azevêdo


Cada um de nós tem muitas vitórias para contar e para cantar também. O que acontece é que as pessoas esquecem de lembrar das vitórias e acabam pensando só nas derrotas, que também fazem parte da vida. É natural que maratonistas ganhem algumas provas e percam outras. É também comum que bons times sejam vitoriosos em algumas partidas e derrotados em outras. É comum ainda que escritores renomados tenham algumas obras como best seller e outras quase desconhecidas do público. Também é muito comum cineastas de renome terem alguns de seus filmes totalmente desconhecidos do grande público porque não emplacaram. Da mesma forma é comum que cirurgiões altamente qualificados tenham um ou outro insucesso em suas carreiras. Todos nós, pessoas públicas ou não, temos em nosso curriculum vitae, muitas vitórias e algumas derrotas. Faz parte da vida. A grande diferença está na maneira como lidamos com esse nosso curriculum de Perdas e Ganhos. A grande diferença entre as pessoas e a vida de cada uma é a atitude, o valor que se dá a cada vitória e a cada derrota. A diferença está dentro de cada um, de cada pessoa. Está na verdade, no jeito de ser de cada um de nós. Alguns supervalorizam as vitórias, não assumem as derrotas e até as escondem e negam e alardeiam e se gabam publicamente das primeiras, multiplicando os louros. Estes são os orgulhosos, os que não ousam sequer pisar no chão. Eles flutuam, enquanto a maioria dos mortais caminha de pés no chão. Eu os conheço até pela forma de andar: peito erguido, queixo fazendo ângulo obtuso com o pescoço, passos largos e alguns maneirismos exagerados na hora de falar.
Às vezes se comprazem em humilhar subrepticiamente aqueles momentaneamente derrotados.
Outros indivíduos, uma boa parte dos mortais, tem plena consciência da transitoriedade da vida, sabem que daqui nada se leva. Nenhum título, nenhum bem material, nenhum cargo de chefia, nenhuma honraria e consideram vitórias e perdas, como coisa natural a quem vive, sabendo que hoje é o dia da caça e amanhã poderá ser o do caçador.

domingo, 18 de agosto de 2013

PENSE

   

Pense, medite sobre sua vida e suas atitudes. Em que é possível melhorar. O que é viável modificar. Pense com calma sem pressa, sem agonia. Mas pense, desde que pensar lhe dê alguma alegria e lhe ajude a melhorar. Nem que seja um tiquinho, pense.
Pense,  por que será que você ficou sem resposta? Por que será que a mesa ficou posta? Por que será que foi tão mal entendida? Por que será que não passou na tal prova? Por que será?! Por que será que a vaidade anda tão em alta? Por que será que fugimos das respostas?