terça-feira, 16 de setembro de 2014

O HOMEM CARRO

                             O HOMEM CARRO
                                               (Fátima Azevêdo)

            Ele transita pelas avenidas, claudicando no contra fluxo. O suor de sua pele, reflete-se assim como o sol,  no para brisa dos carros. Ele caminha entre nacionais e importados, como se houvesse uma pista feita única e exclusivamente para ele. Não sei o seu nome, não sei onde mora. Mas sei que ao caminhar desesperadamente como faz, de peito nu, bermudas sujas e rasgadas e pés descalços, está a nos dizer algo que carecemos de entender. Somos muito pequenos para tal. Eu reparo nele. Os carros parecem respeitá-lo. O Homem Carro, como assim o chamo, anda quilômetros diariamente. Já o encontrei na BR 116, andando rapidamente na mesma velocidade e com o mesmo olhar perdido com o qual o encontro na Avenida Washington Soares, a rodovia CE 040. Ele cruza a cidade de Fortaleza, como que em penitência, em busca de salvação, em busca de libertação. Pode ser visto bem cedo do dia, em pleno sol à pino ou ao entardecer. Seus pés descalços, já calejados e queimados, não mais sentem o asfalto quente. Mas seu coração,  que se vê à distância,  assim como um semáforo vermelho  piscando, certamente sofre em carne viva, com as queimaduras da vida. O Homem Carro é uma parte de nós.

(Fortaleza 16.09.14)