sábado, 7 de julho de 2007

ESTOU...

      foto retirada da net (não tinha referência de autor)



Estou assim...
meio viva,
meio morta.

Meio torta
meio posta.
Dentro de tudo
no meio do nada.

Fora de você
dentro de mim.
Meio morta
meio posta.

Retalhada,
esfarrapada.
Costurando entranhas,
descolando pestanas.

Estou assim...
meio viva,
quase morta.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

E NÓS, AONDE VAMOS ?

Uns querem ter. Outros, nem sonhar. Uns podem criar. Outros não, precisam dar. Uns querem amar. Outros, não sabem como fazê-lo. Uns têm tempo de sobra. Outros, mal param em casa. Uns estimulam o saber, outros estimulam o ócio. Uns mostram que o importante é ser, enquanto outros que o que mais importa é ter. Poucos visitam a escola dos filhos enquanto a maioria não conhece sequer um de seus professores. Uns poucos querem saber aonde estão seus filhos e o que fazem, enquanto muitos querem deles se ver livres. Estes somos nós, os pais desta geração.
Pergunto eu, para onde estamos indo? Qual a perspectiva futura para os nossos jovens? Que tipo de família eles construirão? Que educação darão a seus descendentes? Quem será o seu Deus? Qual será a sua fé? Em que e em quem acreditarão? Como será a sua velhice? Se é que a vida que alguns levam lhes dará chance de envelhecer...

Os adolescentes de hoje de todo e qualquer nível sócio-econômico estão sendo massacrados por uma mídia inescrupulosa e sendo submetidos a uma completa lavagem cerebral de valores , responsável pelo empobrecimento desta nova geração.A maioria dos jovens de hoje está mais pobre de espírito, mais vazia, mais consumista, mais fútil e consequentemente mais infeliz.

Não acredito que a felicidade se encontre na roupa de grife, no carro último modelo, na tatuagem da moda, ou na transa com o cara mais fera da galera. Não está também a felicidade incrustada no piercing genital, nem no lingual, muito menos na gravidez prematura. Creio eu que a felicidade está dentro de cada pessoa sendo diretamente proporcional a capacidade de amar e de se deixar amar, de dar e receber amor que cada um tem.

Creio que a baderna governamental e econômica e o enorme descaso pela educação que já conta anos e principalmente na última década, se reflete na má educação de uma população. E a nossa,um bom exemplo, é bem justa quando reflete jovens que muito pouco ou quase nada respeitam aos professores, aos mais velhos, aos portadores de necessidades especiais, a natureza, aos animais e até mesmo a si próprios. Ninguém respeita mais ninguém nem coisa alguma. As escolas deseducam e uma minoria de pais não encontra eco em suas reinvidicações por uma melhor educação. As escolas particulares viraram grandes empresas, grandes negócios.Preparam para o vestibular, mas não educam.

As escolas públicas, essas meu Deus, são raras as que podem levar o nome de escola.
Além disso a luta pela sobrevivência colocou pai e mãe fora de casa a trabalhar pelo menos 8 horas por dia. E os filhos, quem os educa. A rua? A TV? As lanhouses com seus jogos alucinantes? A Internet com o MSN, orkut e sabe Deus o que mais...As escolas com seus modelos arcaicos de “educar”?

A maioria de nossos jovens, exceto uma pequena minoria que não se enquadra no grupo jovem de comportamentos de risco, esta largada à mercê de uma política educacional capenga e ilusória, cuja maior preocupação é delimitar currículos e data para fechamento de semestres, mas não se preocupa com o que há de mais importante na formação do homem, que é a formação humanística, o estímulo aos valores além de melhorar a qualidade das atividades culturais oferecidas à população.Dentro deste contexto de pais ausentes por um motivo ou por outro, escolas de qualidade questionável e programação cultural de baixíssimo nível, somente uma minoria sai ilesa.

Existem exceções? Mas é claro. Sempre existem muitas e boas exceções.Crianças que nascem na favela, em ambiente hostil e que aproveitam todas as pequenas oportunidades, superam as dificuldades e se tornam seres vitoriosos. Assim como também
os que nascem em berço de ouro e não desperdiçam as oportunidades. Os que nascem bem
e não jogam fora as bênçãos. Estes também são vitoriosos num mundo onde alguns poucos privilegiados aprendem desde cedo a desperdiçar. Há pais que amam seus filhos e cuja missão de educador é mais importante que qualquer título de pós-graduação ou as taxas de juro da bolsa de cereais. Há professores que são educadores natos e que fazem despertar a curiosidade pelo saber em cada um de seus alunos através do amor e dedicação.

É preciso que estas exceções sejam contagiosas e que se disseminem via escolas, famílias e comunidades em geral para que possamos ter no futuro adultos mais amorosos, menos egoístas, mais equilibrados e mais felizes.

BENDITO ENGARRAFAMENTO

Fernanda pula da cama todo dia às 6 h da matina,antes do despertador tocar.Acorda as filhas e o marido e vai tomar banho.Enquanto isso o telefone toca,a faxineira bate à porta, o cachorro escorrega da escada,o marido pergunta pela camisa(se está passada) e as meninas reclamam da farda ainda no varal.Então ela desce correndo e vai fazer o café.Fernanda quer sumir mas o dia está só começando.Ela tem que checar na agenda a hora do dentista,as contas a pagar,colocar as fatias prá tostar,passar o filtro solar no rosto e pegar os trabalhos dos alunos prá escola.Fernanda é professora do ensino médio. Quando se dá conta, as filhas ainda estão deitadas e nisso já são quase 7 h.As filhas estão sempre dormindo tarde,computador ligado até a madrugada.Esperam que os pais durmam para novamente ligarem a máquina.

O que fazer? Jogar no lixo o computador? Trancá-lo a sete chaves? Proibir a saída de final de semana? Não, esta não seria a solução.E ela também não sabe qual seria.Fernanda não tem solução para coisa alguma atualmente, exceto para os problemas de álgebra de seus alunos.E Fernanda impacientemente chama as "meninas"(já não são mais meninas,as duas juntas têm mais de 30 anos)pela enésima vez e ameaça deixá-las e sair sozinha.Só assim elas se levantam. Todo dia é a mesma coisa.

A estas alturas,Fernanda já está taquicárdica, sua pressão arterial já elevou-se e ela olha para o espelho e vê algumas novas rugas e os seios que até outro dia pareciam de mulher de 20,duros como um dedo em riste,agora já não mostram a mesma linha do horizonte. Neste exato momento o marido a chama de fofinha e esta é a gota d'água para envenenar o seu dia.Fofinha era o último nome que ela gostaria de ouvir pois ontem a balança anunciou um aumento de 300g, e isso prá quem está com sobrepeso é um infortúnio.Fernanda congela o marido com o olhar,ato contínuo, coloca o salto mais alto,o brilho nos lábios, o corretivo milagroso nos olhos e marcha até o carro.

Quando vai tirar o carro da garagem o espelho retrovisor lateral é literalmente laçado pelos galhos da trepadeira que José,o marido,não quer podar porque a natureza é linda.E lá se vai Fernanda sem retrovisor e ainda leva nome de barbeira do marido que se acha o tal.As meninas entram no carro e Fernanda engole em sêco a risada de galhofa das filhas pelo acidente com o retrovisor. Sua vontade é dar um corretivo nas duas mas, mantém o controle.Com menos de 10 Km de percurso aparece um enorme engarrafamento e tudo que Fernanda pode fazer então é meditar.Bendito engarrafamento!

Enquanto meditava Fernanda viajou,foi prá bem longe, respirou ar puro,flutuou em um tapete mágico, foi abraçada por todos os amigos queridos e quando os carros começaram a buzinar, ela fez um pouso suave e tranquilo e já estava pronta para encarar o novo dia. Batimentos cardíacos normalizados, respiração regular, pressão arterial normal e plena de amor, mesmo que entre um engarrafamento e outro.Saiu dalí decidida a economizar cada tostão e passar as próximas férias em Dorset.

PARA DEZINHA COM AMOR

Tenho uma tia bem velhinha, velhinha mesmo. Dessas que não têm mais músculos, só a pele enrugada lhe cobrindo os ossos que um dia já foram encobertos por uma pele viçosa e rosada e por músculos de amazona. Pois é, eu tenho uma tia com cabelinho ralo e liso mas ainda brilhante, no lugar das madeixas fartas e encaracoladas de outrora. No lugar dos lindos dentes de antigamente, duas próteses móveis, rosadas e que parecem querer pular do copo d’água ao cair da tarde para me dizer boa noite.

Eu tenho uma tia bem velhinha, velhinha como as meinhas brancas das crianças do grupo escolar que só têm um par para usar o ano inteiro. Tão velhinha que mal pode andar sozinha. Tão velhinha e transparente que torna quase possível a visualização de seus órgãos assim como de sua mente e coração. E o que eu vejo... A mais jovem de todas as mentes que conheço e o mais generoso dos corações.

Ela é a prova mais palpável do amor incondicional. Ela é a paz feito gente, o perdão e a conciliação. É a mais sábia das criaturas. É a última de uma geração em extinção. É o meu xodó maior. E ela sabe disso.

Essa minha tia é tia-avó e mãe-avó ao mesmo tempo. Mãe porque ajudou a me maternar e avó porque leve, sem as angústias ou exageradas preocupações das mães. Fez do meu mundo infantil uma fantasia revisitada sempre que se fazia(faz) necessário. Produzia brinquedos artesanais como ninguém. Desde casinhas de caixas vazias de remédios a soldadinhos de chumbo prateados de tampas de leite em pó..Todos ordenadamente enfileirados a marchar pelos tacos do quarto na casa do Tirol. Arrumava minha casinha de bonecas e quando a asma me atacava e eu faltava às aulas, não sabia o que era tédio. Lá estava ela pronta pra me levar ao mundo da fantasia enquanto minha mãe ia providenciar alimento, medicamentos, consultas médicas e o que mais fosse necessário. Além dos brinquedos artesanais, eu ainda era abençoada pela mãe-lua nas noites de lua cheia, quando Dezinha me levava no(ao) colo para a calçada e me ensinava esse “mantra”: “ a benção mãe-lua me dá pão com farinha pra eu dar pra minha galinha que está presa na cozinha”. E eu, menina de ontem, repetia com a mãozinha levantada, olhando pra lua em total sintonia. Repetia esse “mantra” com a cadência dos poetas, do amor e da inocência.

Até hoje guardo com carinho um par de tamancos comprados no mercado, daqueles tamancos bem baratinhos, que ela me deu quando eu tinha 1 ano.Tamanquinhos artesanais, comprados no Mercado São Sebastião no século passado. Não deixa de ser uma peça histórica em um mundo de plastificados.Estou pensando em emoldurá-los pois para mim são como um retrato doce de minha infância. É uma peça que guarda uma energia muito boa e me faz muito bem.

A Dezinha, essa minha tia querida, não é caduca, muito pelo contrário, está por dentro de tudo o que acontece no mundo e ainda dá palpites.

Essa minha tia nunca casou, nunca teve filhos, mas amou e amou muito. A tudo e a todos. Ainda hoje fala de seu grande amor.

Muito moderna e independente para a sua época, não tinha perfil adequado para o casamento.

Tenho uma tia bem velhinha, mais velhinha do que a mantilha de renda de minha bisavó. Sei que já cumpriu sua missão neste planeta e que mais dia menos dia será como uma poeira de luz feito estrela a iluminar o meu céu. Estará sempre no meu coração.