domingo, 25 de agosto de 2013

VITÓRIAS




                                                     
                                Guache sobre papel-Fátima Azevêdo


Cada um de nós tem muitas vitórias para contar e para cantar também. O que acontece é que as pessoas esquecem de lembrar das vitórias e acabam pensando só nas derrotas, que também fazem parte da vida. É natural que maratonistas ganhem algumas provas e percam outras. É também comum que bons times sejam vitoriosos em algumas partidas e derrotados em outras. É comum ainda que escritores renomados tenham algumas obras como best seller e outras quase desconhecidas do público. Também é muito comum cineastas de renome terem alguns de seus filmes totalmente desconhecidos do grande público porque não emplacaram. Da mesma forma é comum que cirurgiões altamente qualificados tenham um ou outro insucesso em suas carreiras. Todos nós, pessoas públicas ou não, temos em nosso curriculum vitae, muitas vitórias e algumas derrotas. Faz parte da vida. A grande diferença está na maneira como lidamos com esse nosso curriculum de Perdas e Ganhos. A grande diferença entre as pessoas e a vida de cada uma é a atitude, o valor que se dá a cada vitória e a cada derrota. A diferença está dentro de cada um, de cada pessoa. Está na verdade, no jeito de ser de cada um de nós. Alguns supervalorizam as vitórias, não assumem as derrotas e até as escondem e negam e alardeiam e se gabam publicamente das primeiras, multiplicando os louros. Estes são os orgulhosos, os que não ousam sequer pisar no chão. Eles flutuam, enquanto a maioria dos mortais caminha de pés no chão. Eu os conheço até pela forma de andar: peito erguido, queixo fazendo ângulo obtuso com o pescoço, passos largos e alguns maneirismos exagerados na hora de falar.
Às vezes se comprazem em humilhar subrepticiamente aqueles momentaneamente derrotados.
Outros indivíduos, uma boa parte dos mortais, tem plena consciência da transitoriedade da vida, sabem que daqui nada se leva. Nenhum título, nenhum bem material, nenhum cargo de chefia, nenhuma honraria e consideram vitórias e perdas, como coisa natural a quem vive, sabendo que hoje é o dia da caça e amanhã poderá ser o do caçador.

domingo, 18 de agosto de 2013

PENSE

   

Pense, medite sobre sua vida e suas atitudes. Em que é possível melhorar. O que é viável modificar. Pense com calma sem pressa, sem agonia. Mas pense, desde que pensar lhe dê alguma alegria e lhe ajude a melhorar. Nem que seja um tiquinho, pense.
Pense,  por que será que você ficou sem resposta? Por que será que a mesa ficou posta? Por que será que foi tão mal entendida? Por que será que não passou na tal prova? Por que será?! Por que será que a vaidade anda tão em alta? Por que será que fugimos das respostas?



segunda-feira, 22 de julho de 2013

DE MÃOS DADAS

                                                          (Flores colhidas por mim)
                                     
                                                                                   
                     Eu escrevo para não enlouquecer, para me salvar de alguma coisa que eu nem mesmo sei.
               Às vezes fico pensando se vale à pena ter inteligência, discernimento, visão das coisas e do mundo, se realmente a gente às vezes é tão impotente para mudar algumas coisas.
                    Às vezes fico pensando como sou prepotente e arrogante ao pensar que tenho algum poder de mudar o curso da vida, o curso de algumas estradas... Vida, morte, felicidade, tristeza, sorte, amor, desamor.
                    Pensando bem, a vida e a morte andam tão de mãos dadas que é quase impossível não pensar em uma quando se fala na outra. E fazemos de conta que só vemos a vida. Tratamos a morte como se ela não existisse. Na verdade ela é um complemento da vida e vice-versa. Não há morte sem vida, não há vida sem morte. A vida é misteriosa, inexplicável, desconcertante, apavorante, estonteante, eletrizante. Cada um faz da sua um livro mais ou menos apaixonante, mais ou menos frio, mais ou menos quente, mais ou menos tempestuoso, mais ou menos calmo.
                     Quando tento entender a minha, esbarro em perguntas, muitas delas sem resposta. Mas não desisto. Minha vida muitas vezes é uma menina cheia de graça e sonhadora, outras é uma velhota rabugenta e incrédula. Nessa minha vida, às vezes chove, outras faz sol. Tudo e nada acontecem a um só  tempo.
                      Quando falo e penso vida, também falo e penso morte. Se a vida é um mistério, o que dizer da morte? Essa figura desconhecida que geralmente chega sorrateira, sem avisar, fazendo surpresa a amigos, familiares e ao próprio anfitrião.
Eu vejo a morte assim, como uma visita não desejada que mais dia menos dia chegará para todos nós. É um fato consumado, não é invenção minha. É real, mas como não a vemos com naturalidade, conversar sobre o assunto é sempre tabu e às vezes assunto de mau gosto para uns. Não ligo, falo sobre a morte assim como sobre a vida. As duas tem a ver com movimento e transformação. Leio muito sobre tanatologia, sobre os aspectos fisiológicos e psicológicos da morte, sobre situações de quase morte. Já li “O Livro Tibetano dos Mortos” que é bem interessante e eu indico aos curiosos no assunto. Enfim, leio sobre o que não entendo e ainda me apavora, para que o medo se torne mais suave até desaparecer por completo, como os pigmentos na água corrente, dando lugar a paz que vem da aceitação do inevitável e da consciência infinita que nós não passamos de grão de areia nesse imenso universo.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

ALMOÇO DE LUZ

                              Estrelas 3D em kirigami (Fátima Azevêdo)

Ontem eu almocei estrelas.Preferi me alimentar do seu brilho a engolir palavras. Palavras amargas, sem nenhuma doçura ou candura. Minhas estrelas eu recheio com temperos especiais. Uma pitada de sonho, mais duas de poesia, mais uma de fantasia, um pouco de luz da lua e alguns raios de sol. São estrelas reluzentes cheias de muita magia. São luz clareando o dia e são eternas vigias, impedindo qualquer sombra que queira se aventurar a atrapalhar meu dia. Benditas estrelas, de papel, cola e gliter, que vocês me venham aos montes e tragam bastante alegria.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

VIDA

                   

                       Estrelas 3D em papel (Fátima Azevêdo)



                      VIDA
                          (Fátima Azevêdo)

VIDA, sorrisos, lágrimas, abraços, 
carinhos, meus ninhos, sins, nãos.
VIDA, compasso, meu passo, 
em sapatos de asas que não tocam o chão.
VIDA, plena e vazia,
de noite e de dia, aguarda alforria.
VIDA, vestida, despida, 
um fiapo de linho em desalinho.
VIDA tua, vida minha, 
nem por isso vida nossa.
VIDA limpa, vida suja, 
sem arremedos que tolham meus medos.
VIDA que habita a essência 
da mais pura demência dos “sem depois”.
VIDA sem trato, maus tratos 
e pratos vazios no ato.
VIDA sem posse, 
que implora o mais doce dos abraços.
VIDA minha, vida tua, quase nua, 
no eterno compasso das horas.
VIDA inteira, vida agora, 
vida eterna, viva aurora.
(27.06.2013)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ANTES QUE O GÁS APAGUE



  
                    
                        Aquarela sobre papel-Fátima Azevêdo


ANTES QUE O GÁS APAGUE

Eu não quero estar certa,
não quero ser melhor,
não quero me poupar,
nem quero me esconder.

Prefiro beber todo o féu,
do que me negar sentir
o que achei nas entrelinhas
dos olhares, dos pensamentos,
dos tempos, dos sussurros.

Eu não quero estar morta,
nem atrás da porta
quando você chegar de viagem.

Prefiro sair antes que o gás apague
e a panela seque.
Prefiro bater a porta
e jogar a chave fora.

terça-feira, 11 de junho de 2013

A PALAVRA

      Desenho à lápis posteriormente trabalhado em PS (Fátima Azevêdo)


                A PALAVRA
                          (Fátima Azevêdo)
                                             
            Minha quarta dimensão. Nada premeditado. Nada planejado. Vão fluindo, vão brotando e eu não tenho controle algum sobre elas, as palavras. Com todo respeito à Clarice (a Lispector), elas também são minha quarta dimensão. Ai de mim se não fossem as palavras. Às vezes posso dizer muito sobre muitas coisas e outras vezes, sei muito sobre outras tantas e não posso falar. Não devo falar. Então eu calo. Mas não que eu goste de calar, é porque simplesmente eu respeito as pessoas. Eu respeito até quem não me respeita. Eu não gosto de causar constrangimento aos outros.  Então, eu sei de coisas, mas não falo. Eu guardo muitas estórias, vasos quebrados de terceiros e muitas memórias, nos vários aposentos do meu coração e às vezes jogo fora também. Toco fogo. Queimo tudo. Faço uma faxina geral. Eu sei de coisas que me fizeram e as pessoas nem sabem que me fizeram. Eu senti tristezas que vocês nem imaginam por que, nem por quem. Eu já caí do dorso do meu cavalo alado tantas vezes que não daria para contar nos dedos. Ainda assim, continuo acreditando nos seres bípedes, mesmo quando  trocaram o par de braços por mais um de pernas. Continuo crendo que pessoas não magoam outras de caso pensado. Penso que a alegria, o amor e a paixão, são o estado normal de se viver e que qualquer coisa que nos tire dessa sintonia, qualquer pessoa que nos roube dessa harmonia, deve ser sumariamente eliminada de nossa esfera de luz, sem piedade. Nessas horas eu não sou piedosa.
            Eu e você temos a nossa própria luz que é feita de nossos pensamentos, de nossos desejos, de nossas atitudes, de nosso amor, de nossa paixão, etc. Somos o que pensamos, o que desejamos, o que fazemos e amamos.

(26.10.10) 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

MALABARISTAS

       

                                         Aquarela sobre papel (Fátima Azevêdo)


 MALABARISTAS
                   (Fátima Azevêdo)

Somos todos muito iguais,
somos  bons malabaristas.
No ensaio dia-a-dia,
de  todos os rituais
aos  quais chamamos de vida,
somos  bons equilibristas.

Somos todos muito iguais,
somos bons malabaristas.
Se falamos sim ou não,
se estendemos a mão,
se erramos ou acertamos,
no final todos estamos,
em busca de muita paz.

(1988)

sexta-feira, 31 de maio de 2013