Eu escrevo para não
enlouquecer, para me salvar de alguma coisa que eu nem mesmo sei.
Às vezes fico pensando se vale à
pena ter inteligência, discernimento, visão das coisas e do mundo, se realmente
a gente às vezes é tão impotente para mudar algumas coisas.
Às vezes fico pensando como
sou prepotente e arrogante ao pensar que tenho algum poder de mudar o curso da
vida, o curso de algumas estradas... Vida, morte, felicidade, tristeza, sorte,
amor, desamor.
Pensando bem, a vida e a
morte andam tão de mãos dadas que é quase impossível não pensar em uma quando
se fala na outra. E fazemos de conta que só vemos a vida. Tratamos a morte como
se ela não existisse. Na verdade ela é um complemento da vida e vice-versa. Não
há morte sem vida, não há vida sem morte. A vida é misteriosa, inexplicável, desconcertante,
apavorante, estonteante, eletrizante. Cada um faz da sua um livro mais ou menos
apaixonante, mais ou menos frio, mais ou menos quente, mais ou menos
tempestuoso, mais ou menos calmo.
Quando tento entender a
minha, esbarro em perguntas, muitas delas sem resposta. Mas não desisto. Minha
vida muitas vezes é uma menina cheia de graça e sonhadora, outras é uma velhota
rabugenta e incrédula. Nessa minha vida, às vezes chove, outras faz sol. Tudo e
nada acontecem a um só tempo.
Quando falo e penso vida,
também falo e penso morte. Se a vida é um mistério, o que dizer da morte? Essa
figura desconhecida que geralmente chega sorrateira, sem avisar, fazendo
surpresa a amigos, familiares e ao próprio anfitrião.
Eu vejo a morte assim, como uma visita não desejada que mais dia menos
dia chegará para todos nós. É um fato consumado, não é invenção minha. É real,
mas como não a vemos com naturalidade, conversar sobre o assunto é sempre tabu
e às vezes assunto de mau gosto para uns. Não ligo, falo sobre a morte assim
como sobre a vida. As duas tem a ver com movimento e transformação. Leio muito
sobre tanatologia, sobre os aspectos fisiológicos e psicológicos da morte, sobre
situações de quase morte. Já li “O Livro Tibetano dos Mortos” que é bem
interessante e eu indico aos curiosos no assunto. Enfim, leio sobre o que não
entendo e ainda me apavora, para que o medo se torne mais suave até desaparecer
por completo, como os pigmentos na água corrente, dando lugar a paz que vem da
aceitação do inevitável e da consciência infinita que nós não passamos de grão
de areia nesse imenso universo.