segunda-feira, 2 de julho de 2007

BENDITO ENGARRAFAMENTO

Fernanda pula da cama todo dia às 6 h da matina,antes do despertador tocar.Acorda as filhas e o marido e vai tomar banho.Enquanto isso o telefone toca,a faxineira bate à porta, o cachorro escorrega da escada,o marido pergunta pela camisa(se está passada) e as meninas reclamam da farda ainda no varal.Então ela desce correndo e vai fazer o café.Fernanda quer sumir mas o dia está só começando.Ela tem que checar na agenda a hora do dentista,as contas a pagar,colocar as fatias prá tostar,passar o filtro solar no rosto e pegar os trabalhos dos alunos prá escola.Fernanda é professora do ensino médio. Quando se dá conta, as filhas ainda estão deitadas e nisso já são quase 7 h.As filhas estão sempre dormindo tarde,computador ligado até a madrugada.Esperam que os pais durmam para novamente ligarem a máquina.

O que fazer? Jogar no lixo o computador? Trancá-lo a sete chaves? Proibir a saída de final de semana? Não, esta não seria a solução.E ela também não sabe qual seria.Fernanda não tem solução para coisa alguma atualmente, exceto para os problemas de álgebra de seus alunos.E Fernanda impacientemente chama as "meninas"(já não são mais meninas,as duas juntas têm mais de 30 anos)pela enésima vez e ameaça deixá-las e sair sozinha.Só assim elas se levantam. Todo dia é a mesma coisa.

A estas alturas,Fernanda já está taquicárdica, sua pressão arterial já elevou-se e ela olha para o espelho e vê algumas novas rugas e os seios que até outro dia pareciam de mulher de 20,duros como um dedo em riste,agora já não mostram a mesma linha do horizonte. Neste exato momento o marido a chama de fofinha e esta é a gota d'água para envenenar o seu dia.Fofinha era o último nome que ela gostaria de ouvir pois ontem a balança anunciou um aumento de 300g, e isso prá quem está com sobrepeso é um infortúnio.Fernanda congela o marido com o olhar,ato contínuo, coloca o salto mais alto,o brilho nos lábios, o corretivo milagroso nos olhos e marcha até o carro.

Quando vai tirar o carro da garagem o espelho retrovisor lateral é literalmente laçado pelos galhos da trepadeira que José,o marido,não quer podar porque a natureza é linda.E lá se vai Fernanda sem retrovisor e ainda leva nome de barbeira do marido que se acha o tal.As meninas entram no carro e Fernanda engole em sêco a risada de galhofa das filhas pelo acidente com o retrovisor. Sua vontade é dar um corretivo nas duas mas, mantém o controle.Com menos de 10 Km de percurso aparece um enorme engarrafamento e tudo que Fernanda pode fazer então é meditar.Bendito engarrafamento!

Enquanto meditava Fernanda viajou,foi prá bem longe, respirou ar puro,flutuou em um tapete mágico, foi abraçada por todos os amigos queridos e quando os carros começaram a buzinar, ela fez um pouso suave e tranquilo e já estava pronta para encarar o novo dia. Batimentos cardíacos normalizados, respiração regular, pressão arterial normal e plena de amor, mesmo que entre um engarrafamento e outro.Saiu dalí decidida a economizar cada tostão e passar as próximas férias em Dorset.

Um comentário:

Lina disse...

Ah, gostei tanto desse. Até tive a impressão de conhecer o José, que adora a natureza. rs. Muito bom este caminho com você, tia. Opa, com a Fernanda. bjos, Lina