Ainda estou meio
paralisada emocionalmente falando. Não sei explicar com palavras. Papai partiu,
viajou, (seja lá o nome que se dá ao verbo morrer e que não gostamos de
pronunciar) desapareceu do meu raio de visão em janeiro deste ano. Minha primeira páscoa e meu
primeiro aniversário sem papai.
Desde então, esvaziando a casa onde cresci, abrindo
e fechando gavetas, me desfazendo de móveis, armários, roupas, livros, coisas
pessoais de meu pai, cada vez que pego numa coisa é uma dor imensa. Não é a
questão do apego material, é a questão da lembrança que a coisa me trás.
Já encontrei cartas antigas, fotos oferecidas à
minha mãe no começo do namoro, poemas engraçados e outros mais sérios.
Contratos de trabalho, documentos do Ministério da Saúde agradecendo a papai
pela sua participação na Reforma Administrativa, retratos nossos quando éramos
crianças, bilhetinhos de nós para papai e mamãe, enfim, preciosidades caras
para mim.
Tenho ainda duas malas e várias pastas para revisar
e ver o que irei guardar e o que irei desprezar, doar, jogar fora. Me dói cada
vez que começo a remexer em algo. As pastas 007, a cara de papai quando saía
para trabalhar. Tudo ordenado minunciosamente. Muito diferente da filha mais
velha.
Não sei...Uma amiga me telefonou e falando sobre as
perdas, me sugeriu que eu guardasse todo esse material por um tempo e aos
poucos fosse olhando. Talvez seja uma saída, até me sentir fortalecida o
bastante para revirar minhas entranhas sem muita dor. (Fátima Azevêdo 26.04.2014)
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