sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

PAIXÃO, CADÊ VOCÊ?

desenho feito à lápis em caderno escolar por Fátima Azevêdo Alguns casais muito bem casados, mas, com o olhar opaco, com o sorriso amarelo e com o andar fora da cadência, parecem perguntar:

Aonde anda a paixão?
Que bicho deu nela?
Aonde se meteu?
A paixão está morrendo?
Do que depende a paixão para continuar viva?
Qual a sobrevida de uma paixão enferma?
A paixão está com seus dias contados?
Ela não morre?
Viaja e depois retorna?
Como funciona essa coisa de paixão nos relacionamentos?

Sei bem que receitas só funcionam as de bolo e as de remédios. E olhe lá,ainda dependem da mão de quem as faz, bem como da qualidade do forno, e do organismo de quem os toma respectivamente.

Ih, é um assunto complicado falar de paixão com interrogações.

Quando a paixão é ponto e exclamação não é problema.. Ela é. Ela está. Ela faz.
Mas quando é interrogação, ela quer resposta e às vezes as respostas não aparecem, ou porquê não desejam aparecer ou mesmo porquê não existam ainda respostas naquele tempo e naquele espaço. Então a paixão sofre, vira coisa perdida, pelo avesso, sem cor, sem som, sem luz, sem sal, sem tempero. Aí não é mais paixão. É escombro de paixão.


Conheço um bando de casais de todas as idades, do mais jovem ao mais velho, acomodados com suas pseudo-paixões. É uma feiúra. A gente sente no ar. Não adianta
mãos dadas, beijinho em público, amorzinho pra cá, amorzinho pra lá. Não dá pra esconder.
A acomodação bateu, falta alguma coisa. A acomodação é a morte da paixão. Falta aquele brilho no olhar, aquela luz no sorriso e aquele “de bem com a vida” que nem mesmo o pior dos Severinos da vida pública pode atrapalhar.


A paixão nos relacionamentos não é movida à receitas, roteiros de auto-ajuda, pílulas na hora do almoço, spas de jejum, cursos de Kama Sutra, janela indiscreta, silicone, botox ou coisa que o valha. A mim me parece que é algo meio inexplicável, com propriedades químicas específicas e tudo de invisível que se rotula de magia. Na minha opinião não científica e extremamente pessoal, a paixão funciona com um pouco de tudo. Primeiro eu tenho que estar apaixonada pela vida. É isso mesmo. Apaixonada pela vida, pelas coisas que faço, tenho que ter admiração pelo outro, gostar muito de mim, da pessoa que sou, ter respeito pelo outro e por mim, ter por certo que sou desejável, ter tesão pelo outro e pela vida e por tudo que me rodeia e por tudo de bom que a vida pode me dar. Preciso ter consciência de todas as trocas possíveis e não possíveis de acontecer no relacionamento, saber das minhas limitações, ter cuidado com as expectativas, não ter opinião formada sobre tudo, manter o brilho nos olhos sem beirar a alienação e ser antes de tudo uma pessoa autêntica. E pra ser autêntica a gente deve guardar os medos do que os outros e o outro vão pensar de nós, no fundo do baú e jogar a chave na primeira correnteza que encontrar. Porquê prá viver uma paixão, de verdade, eu não posso fazer de conta. Eu tenho que ser eu mesma. Com toda a minha história com H maiúsculo.


Acredito e sei que paixão não é coisa limitada aos mais jovens. Nem poderia. Seria muito injusto se assim o fosse. É direito de todo e qualquer ser vivente. Pois, cuidemos da nossa paixão. Não consigo viver sem uma e naturalmente, danço conforme a dança, conforme o dia, conforme a paixão. Sempre fui e continuo sendo uma ótima dançarina. Estou sempre-viva e dou graças a essa palavra sonora que me faz flutuar entre a realidade e o sonho e usar e abusar da minha criatividade: Paixão.

Em 25/09/2005

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