sexta-feira, 26 de outubro de 2007

DOCUMENTO PERDIDO

Eu perdi um papel muito importante. Um papel que eu jamais deveria ter perdido. Aliás foram dois, mas agora vou falar apenas de um deles, porque é o que preciso mais urgentemente. Preciso dele para ontem e não consigo encontrá-lo. E o que é pior, como nunca precisei dele antes e achava que nunca iria precisar, não tenho nem mesmo uma cópia do dito cujo. Só não estou em pânico porque friamente falando, aliás, pensando, sei que para tudo há uma saída, haverá de existir.

Estou fazendo um curso de pós-graduação e para me inscrever oficialmente, preciso de uma cópia do meu diploma de médica. Deste, eu tenho cópia. Mas como meu diploma de medicina está com nome de casada e hoje tendo retornado ao meu nome de solteira, para evitar enganos, resolvi corrigir meu nome no diploma. Um diploma tão importante não merece ficar com um nome que já não é o meu, concordam comigo?!

Judicialmente falando sou uma mulher divorciada, se bem que realisticamente falando sou uma mulher há 18 anos novamente casada. Como por livre e espontânea vontade nem eu nem meu atual companheiro quisemos ir ao juiz de paz para lavrar em cartório nossa união, melhor dizer relação, nunca precisei de meu documento de divórcio, que me foi presenteado pelo meu ex-marido. Pois é, agora preciso do tal documento. Peguei nele outro dia arrumando papéis e agora que preciso tanto dele não consigo encontrá-lo. Já rezei pra São Lunguinho, para o Neguinho do Pastoreio, para meus mortos queridos, até ensaiei chorar, mas nenhuma dessas atitudes gerou sucesso em minha empreitada de busca. Desisti então de me desesperar.

Conclusão: terei, mesmo que constrangidamente, sim, porque um documento desses não se perde à toa, pedir uma cópia do mesmo ao meu antigo marido, ou então perguntar-lhe em que cartório foi feito o divórcio para que eu mesma possa providenciar uma cópia do documento.

E agora eu me pergunto surpreendentemente estarrecida, como é que eu posso ter dado fim a esse documento? Um documento que mudou tão radicalmente a minha condição ou meu estado civil. Como posso ter feito isso? Um papel que me impede por todos os séculos e séculos amém de preencher uma ficha optando pelo estado civil solteira? Imagino que talvez, quem sabe, eu inconscientemente, tenha perdido esse papel pelo ridículo que ele significa para mim. Se eu descasei, me desquitei ou me divorciei, é claro que eu deveria ter voltado a ser solteira. A justiça dos homens se encarrega ela mesmo de nos marcar à ferro e fogo com nomes, números, estado civil, todo tipo de estados , quando na verdade não passamos de meros seres humanos. Esse é o meu estado de ser mais importante: ser humano. E se vocês arriscarem a me perguntar sobre meu estado civil, a resposta será: meu estado civil é o estado de SER HUMANO. E tenho dito.


Em 17.09.06 domingo cheio de sol

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