sexta-feira, 26 de outubro de 2007

ENCANTO E DESENCANTO


                           Aquarela sobre papel (Fátima Azevêdo)

Não deveria ser assim mas é. São cheios de tirania e desumanos os relacionamentos à dois. A maioria deles rima com desencanto, cansaço, desalento. No começo tudo é lindo, tudo é motivo de riso, de graça, de amor e de laço. De café à dois, cinema à dois, almoço à dois, leitura à dois. Até olhar o caminho das formigas é um ato de amor e motivo de carinho. Os beijos são explícitos e públicas são as manifestações de carinho. Tudo é perfumado e colorido é o dia e a noite. Nada é escuro, nada é cansaço. Tudo é interesse e atenção. Tudo é encontro e infinitas possibilidades.

Depois, como num passe de mágica, o encanto acaba e dá lugar ao desencanto. O bonito vira feio, o que era gostoso vira insípido. O roçar das peles vira incômodo e a perna em cima do outro vira um peso. O simples ouvir a voz fica insuportável e a pessoa que antes falava doce, agora rosna. Os olhares não mais se cruzam e as curvas e cruzamentos se transformaram em linhas divergentes, agora, sem possibilidade de encontro.
Não deveria ser assim mas é. São cheios de tirania e desumanos os relacionamentos à dois. Não duram mais que o curto espaço de uma paixão. Quando duram, na maioria das vezes, duram por acomodação. Não acredito em relacionamentos sem paixão e paixão é fogo e fogo tem começo e tem fim.

Nos casamentos o padre ao invés de dizer a célebre frase “ felizes até que a morte os separe”, deveria substituí-la por:” felizes até que a paixão acabe”. Seria mais honesto e mais real. Menos utópico e mais humano. Bom, o padre não diz, mas eu, lá do banco da Igreja, eu digo: “felizes até que a paixão acabe” e é só esperar pra ver.

Mesmo pensando assim, eu adoro casamentos. Na verdade, cerimônias de casamento. Tudo é lindo, desde a decoração, a música, o vestido da noiva, a noiva, o noivo, os melhores perfumes tirados dos armários, os chapéus das madrinhas, os olhares, as daminhas, o carrão, geralmente alugado ou emprestado e as solteiras aguardando o buquê.Tudo é lindo e por isso mesmo deveria ser repetido quantas vezes necessário.Tipo posologia de remédio. Case quantas vezes for necessário.Casar faz bem, só não posso dizer por quanto tempo dura o efeito. Depende de vários fatores. Acho cerimônias de casamento uma das melhores performances a serem assistidas. Acho que por mais emancipada que seja a mulher, esse ritual do casamento é algo que deveria ser experimentado pelo menos uma vez na vida. O mais engraçado de tudo é que a pessoa casa e descasa , as lembranças vão esmaecendo, novos casamentos à vista, e as fotos da cerimônia são algo que com o passar do tempo são vistas realmente como fazendo parte de uma performance e não da realidade.

Acredito até que existam casais que vivam juntos a vida inteira por amor, e que consigam manter aceso o fogo da paixão, mas isso não é o comum. Na verdade é a exceção. Creio que um bom número de casais que vive junto a vida inteira é mais por acomodação ou mesmo por falta de opção. Ou quem sabe, por pura covardia, ou até por economia, o que não é raro nos dias de hoje. Mas, continuo acreditando que viver à dois é desumano e pura tirania.


2 comentários:

Nina disse...

Eu adorarei cerimônias de casamento o dia que elas começarem a me render uma grana, hohohoho!

(Capitalista demais? E quem disse que o romantismo existe de verdade??)

Beijos, boa semana!

Unknown disse...

Quero ser a Excessão ,segundo seu post .Me fez pensar que grande parte das FAMILIAS não teem cultivado o INFINITO AMOR de DEUS , presente na BençÃO MATRIMONIAL e por toda a Vida , em toda a HORA ou Situações vividas.
BJSSSS